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ALANA LIAL* –
“Não sou profeta nem tão pouco visionário, mas o diário desse mundo ’tá’ na cara”.
Não é uma frase minha, é de um cantador nordestino. Ela cai como uma luva quando alguns anos atrás, pedalando com uma amiga na Avenida Paulista e falando sobre política eu, ainda, em tom de brincadeira disse: “não se admire se esse tal Bolsonaro se candidatar à Presidência da República e ganhar”. Ela, com desdém, me disse que era impossível alguém votar nesse cara. É, minha cara, não só votaram como transformaram esse homem em mito. O mito que, por sua vez, mostrou ser ainda mais perverso. O mito que mente, o mito que omite, o mito que é monstro.
Dizem que o líder de uma nação reflete o seu povo, que azar o nosso. E não me venha falar sobre enganos, corrupção, Lula, Dilma, PT, sem dedos, sem tetos, patriotismo, economia, lavagem de dinheiro, cadê o Queiroz? Eu tenho 42 anos, nasci sob o regime da ditadura, assisti da TV as “Diretas já!”, acreditei que os caras-pintadas derrubaram um presidente. Eu sou capaz de suportar quase qualquer coisa. Até já me acostumei, para ser franca. Mas nunca, em tempo algum, eu me curvarei diante da covardia e da canalhice de quem atenta contra a vida. As vidas. As milhares de vidas. As vidas negras. As vidas pobres. As vidas que para eles nem são vidas. As vidas que não importam. E não duvide que a sua vida classe média cafona pode não importar também.
Atravessamos um deserto coletivo, sem muita perspectiva de chegada. Para meu autoconsolo tento pensar que essa pausa brusca e sem aviso prévio de vidas e sonhos deve ter algum sentido. Eu me agarrei na ideia de que tudo isso é para vivermos o hoje, um dia de cada vez, para desacelerarmos, para sair da zona de conforto. Aprendendo a sermos singulares para sermos melhores plurais. Pensando assim, sobrevivo em paz. E tento aprender. Afinal o mundo enfrenta um vírus mortal, nós, brasileiros, dois. Ou você esperava que um ser humano que não gosta de negros, menospreza mulheres, discrimina pobres, ridiculariza gays, endeusa torturadores, não traz no peito nenhuma gota de empatia e resquício de humanidade não fosse se tornar um vírus? Era questão de tempo, tolinho e tolinha.
Eu, sinceramente, tenho saudades de não sentir raiva, tenho saudade de assistir jornal e não ter que desligar a TV toda vez que aparece o homenzinho sórdido. Ando transbordando saudades. Aliás saudade de você. Só não sinto saudades das pessoas que se perderam no meio do caminho e mostraram a sua pior face. Pena é pouco. Quem aplaude e apoia genocida, assassino é. Um dia seremos as pessoas do passado, em fotos antigas de Instagram, mas onde quer que estejamos, vamos ter a certeza que estivemos do lado certo da História. De mãos e almas limpas. E isso é grande. É isso que vai nos levar além…
Acervo pessoal
*Alana Lial é atriz, jornalista, dramaturga e escritora. Lançou em 2019 o livro “Só não choro para não borrar meu rímel”. Atualmente no teatro da vida a Eugênia Álvaro Moreyra uma das primeiras feministas brasileiras.
Homem, idade não revelada, nascido de um homem e uma mulher altamente erotizados. hoje pensa e vive para isso, além de trocar ideias sobre o tema. ou será que ele escreve sobre outra pessoa, é tudo ficção ou só exagero? ou não? quem sabe que se cale.
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