ALANA LIAL* –
Eu sou cinéfila. Uma vez por semana vou ao cinema e assisto diariamente um filme – uma regra que criei para não ser quebrada, acho importante afetar a alma alguns minutos por dia. Com tempo, quando o tenho, são pelo menos três histórias seguidas. Quando fiz meu primeiro filme como protagonista, senti que atingi o máximo que eu tinha coragem de sonhar quando há 25 anos me tornei uma atriz.
Depois dessa introdução sobre a minha relação com o cinema, que, de fato, você não está nem um pouco interessado em saber, a não ser que você queira me chamar pra ir no cinema. Convite que eu vou recusar. Nada pessoal. Gosto de ir sozinha ao cinema. Gosto de almoçar sozinha. Gosto também de cometer pequenos delitos de etiqueta.
Na verdade, esse texto não é sobre nada do que falei até agora, mas falar tudo isso até aqui traz lucidez ao que quero dizer, e o que quero dizer é que em tempos de quarentena obrigatória, isolamento necessário e unidade coletiva, trocando em miúdos, essa peleja que é ser brasileira. Quero parabenizar publicamente os roteiristas brasileiros. Não, não os que eu vejo, os outros, os que não têm cara. Os sábios. Você sabe que nada disso é por acaso né?
Sempre soube que o cinema ia me levar a algum lugar, menos à vida real. Sim, ou você nunca viu uma história como essa? Deixamos de ser espectador, agora somos a própria história. A diferença é que antes, depois de duas horas, mais ou menos, você voltava para a sua vida classe média, seus boletos e o financiamento do seu carro. Agora você não volta, aliás você nem vai. Tem a casa, os sonhos, os boletos, mas a trama não tem previsão de The End.
E eles, os roteiristas capricharam: temos vilão invisível mundial, em forma de pandemia, vilão canalha visto a olho nu, bandido que vira mocinho, aspirantes a heróis, intrigas, mortes, medo, pânico. Podia ter um sexozinho. Nota de roda a pé. Eles se superaram na vilania.
A diferença está entre o que víamos e o que vivemos. É um poço, fundo. O tempo de hoje exige um abismo entre nós, peles e pelos só os diários e de costume em se tratando do outro. O mundo se tornou os 70 metros quadrados que habitamos, com sorte. Tem gente que habita 20. E tem gente que habita nada. O inferno não são os outros, porque somos os outros dos outros, somos inferno? Fomos colocados em um filme sem permissão, por obrigação. Mas teremos o nosso final, não sei se feliz. Enquanto isso, dentro dos nossos mundos vale descobrir outros mundos, já que estamos aqui, com ou sem final feliz, permaneçamos vivos, afinal todo mal tem seu fim.
Acervo pessoal
*Alana Lial é atriz, jornalista, dramaturga e escritora. Lançou em 2019 o livro “Só não choro para não borrar meu rímel”. Atualmente no teatro da vida a Eugênia Álvaro Moreyra uma das primeiras feministas brasileiras.
Homem, idade não revelada, nascido de um homem e uma mulher altamente erotizados. hoje pensa e vive para isso, além de trocar ideias sobre o tema. ou será que ele escreve sobre outra pessoa, é tudo ficção ou só exagero? ou não? quem sabe que se cale.
JOÃO LUIZ VIEIRA - Segunda-Feira
ROSOSTOLATO - Segunda-Feira
ALANA LIAL - Terça-Feira
LUIZ FERNANDO UCHOA - Quarta-Feira
MARCHESA DE SADI - Quinta-Feira
HEITOR WERNECK - Quinta-Feira
MARCIA ROCHA - Sexta-Feira
DIÁLOGOS COM MAMÃE - Sábado
Comentar