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ALANA LIAL* –
Envelhecer é ter que se despedir mais. Ouvi isso há muito tempo atrás, não sei onde, e na minha inabalável e inquieta juventude confesso que, na época, não me permiti ser tocada pela grandeza dessa afirmação. De certa forma, acho que sempre associei a velhice à forma tradicional como fomos acostumados a enxergar, velhinh@s meig@s e gentis, de fala mansa e cabelos de algodão. Ainda não sabia, naqueles idos, que para envelhecer basta ter alma. Um suspiro, uma palavra maldita, um sentimento pelo avesso. Um tiro, um soco, um tapa, uma cólera, um coração, um excesso, um silêncio, uma falta. Faz.
Um amigo cético, poeta e bêbado, mas, ainda sim, com resquício de lucidez, me disse uma vez que morrer é deixar de ser visto. Eu, como acredito em quase tudo que me convém, ainda acrescentei: deixar de ser visto por um tempo. Uma vida. Um hiato. E hoje, ai de mim se eu não acreditasse nisso. O ano mal começou, eu mal comecei e já tive que terminar. São 30 dias que ando perdendo pessoas, minhas, dos outros, nossas. Uma sequência estúpida de como somos efêmeros. Uma enxurrada de partidas prematuras sem tempo para um até breve. E isso dói. E isso não me parece justo. Em que tempos se tornou comum dar um abraço de despedida hoje e já deixar marcado o cinema da próxima quinta, sessão das 19h, que você não vai porque você não vai ser mais visto por mim. Pelo menos nessa vida.
Eu, de minha parte, comecei a envelhecer ainda não tinha dez anos. Meu vizinho de 14 que jogava banco imobiliário comigo. Disso tudo até hoje, trago a falta de costume. Jamais vou me habituar com despedidas, as precoces então, têm minha recusa pertinente. Nunca vou aprender a me portar porque o meu coração não comporta judiações. Suporta, porque envelhecer te cria cascas. E asas.
Das perdas todas dessa vida que levo agora e que anuncia a sua quadragésima primeira volta ao Sol em breve, posso afirmar sem pestanejar que o que de fato aprendi sobrevivendo a meus pequenos volúveis terremotos é que quero o hoje. Quero sugar tudo e todos pra dentro de mim, quero gastar vida de forma sábia, quero estar no outro e deixar o espírito livre para que o outro habite em mim. Envelhecer me ensinou que mais lembranças na cabeça, eu quero sentido ao longo dos meus hiatos.
Para Daniela Nistra.
Acervo pessoal
*Alana Lial é atriz, jornalista, dramaturga e escritora. Lançou em 2019 o livro “Só não choro para não borrar meu rímel”. Atualmente no teatro da vida a Eugênia Álvaro Moreyra uma das primeiras feministas brasileiras.
Homem, idade não revelada, nascido de um homem e uma mulher altamente erotizados. hoje pensa e vive para isso, além de trocar ideias sobre o tema. ou será que ele escreve sobre outra pessoa, é tudo ficção ou só exagero? ou não? quem sabe que se cale.
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