Arquivo pessoal/2013
JOÃO LUIZ VIEIRA* –
“Fui expulsa da academia First, em São Paulo”, publicou a advogada e escritora Claudia Vilaça, 51, casada, dois filhos, em seu blog onde mostra sua transformação física de franzina a fisiculturista, percurso que tem apenas seis anos. Atenção, abaixo, para os dados deste episódio.
Local: Academia de ginástica que preza pela superação dos limites de seus alunos.
Bairro: Jardins, um dos mais modernos de São Paulo.
Cidade: São Paulo, uma das maiores metrópoles do mundo.
Ano: 2013, não preciso dizer mais nada não é?
Pois é, aconteceu. Ela foi expulsa depois de numerosos pedidos de clientes, pagantes como ela, que reclamavam de Claudia e seus incômodos barulhos que produzia enquanto treinava disciplinadamente, até nos fins de semana. Chegar com o corpo acima aos 51 anos não é para qualquer um, mas precisava de barulho? Que tipo? Parecia que ela estava gozando. Exótico é, mas justifica uma expulsão por pressão dos alunos? Que alunos? Procurei a assessoria de marketing da academia durante toda esta sexta-feira e ainda aguardo o retorno do lado de lá da catraca. Teremos.
Antes, a íntegra do post que Claudia publicou em seu blog, onde expõe, claro, seu lado do problema:
“Fui expulsa da academia First, em São Paulo.
Por isso, esta deve ser a última vez que você vê as minhas fotos toscas de celular tiradas no vestiário da First, antes ou depois do treino de todas as manhãs. Segundo o gerente da First, Northon Dengler, e sua secretária, Luciana Pilon, a minha presença incomoda e perturba os frequentadores da academia.
Quem são os reclamantes? – pergunto. E quantos: uma, duas pessoas?
Que nada!
A lista é extensa – diz o gerente. E eu que nunca pensei que fosse tão popular, ou melhor, impopular…
O gerente afirma que dezenas, centenas, milhares, multidões de atletas e de praticantes ocasionais de musculação, professores e funcionários do seu estabelecimento não suportam dividir o espaço comigo.
E isso, é claro, não vem de hoje.
A história que parece piada, considerando-se o meu ótimo relacionamento com todo mundo e o ambiente em questão (não exatamente uma igreja ou uma biblioteca 😉 – som alto, conversas, gritos, piadas, risadas, paqueras, professores contando as repetições e as séries, anilhas e barras derrubadas com estrondo no chão -, começou em março, ou seja, há 5 meses venho sendo fuzilada com os olhos por dois ou três desafetos e patrulhada a cada movimento na sala, a cada gemido, cada passo.
Primeiro fui chamada pela secretária para ouvir sermões e repreensões a portas fechadas, o que me lembrou a temida salinha 14 da madre superiora, Irmã Mariana, no colégio de freiras em que estudei nos idos dos anos 70.
Depois da conversa com a secretária e porta-voz dos tais descontentes – obviamente protegidos pelo ANONIMATO e, por isso mesmo, ainda mais furiosos e valentes em seus ataques: ‘os alunos incomodados preferem não se identificar’ -, veio a intimação formal para reunião com o senhor gerente, como se eu tivesse alguma obrigação de interromper o meu trabalho para ir à academia falar com o homem e assim aplacar a ira dos céus e dos infernos.
Seguiram-se e-mails e notificações, ameaças de medidas judiciais, trocas de farpas, risadinhas e comentários maliciosos, irritações de sobra. A pedido da minha treinadora, prometi ser uma menina boazinha, rezar 10 ave-marias, abaixar a cabeça, fazer as lições de casa, usar uma mordaça e me comportar como uma moça penitente (isso se não quisesse ser castigada e mandada ajoelhar no milho ou me açoitar nas costas).
Só faltou eu me matricular em alguma escola de etiqueta e aprender a lidar com talheres para escargot e comer manga e melancia (servidas com casca, inteiras) de garfo e faca sem me lambuzar, e assim não fazer feio na academia de público tão seleto e requintado.
Não adiantou.
Os ‘Incomodados com a Claudia Vilaça’ quase têm um treco ao me ver por ali no mesmo horário, das 11 às 12h30, todos os dias, mesmo que estejam do outro lado da sala. Seus ouvidos biônicos captam tudo!
A propósito, o que me atraiu para a First foi justamente o fato de ser uma academia de grandes atletas, ‘gente do ferro’, pura inspiração. Um lugar onde eu pensava ser possível treinar de verdade. Estava enganada, infelizmente.
Sou uma cliente da academia como todos os outros, pago as mensalidades integral e pontualmente, não tenho nem nunca tive qualquer desconto ou regalia.
O gerente da First interrompeu o meu treino de hoje com o seu sermão encomendado, como se fizesse um grande favor por ter permitido que eu me exercitasse no templo de refinamento, sutileza e boas maneiras que ele imagina ser uma academia de ginástica digna e de boa reputação.
Você notou que eu usei o verbo no passado, pois a tal permissão não existe mais.
Meus modos, meu comportamento, meu jeito de treinar “no limite” e além dele, meu “esforço exagerado”, minha dieta sem carboidratos e o óleo de coco antes.
E, depois da musculação, em vez dos habituais shakes, pós mágicos, poções e pílulas (um péssimo exemplo, má influência em um mundo que gira em torno da indústria de suplementos, das farmácias de manipulação, das ‘fórmulas infalíveis para crescer e secar’, dos aditivos e dos hormônios sintéticos e que vai contra a orientação e os ‘negócios’ dos treinadores, dos ‘entendidos’ e dos que se julgam detentores exclusivos do saber e dos mistérios do esporte), ser uma atleta 100% natural (SEM DROGAS), meus resultados obtidos unicamente à custa de treino pesado, alimentação regrada e disciplina extrema.
Minha formação de advogada, meu trabalho como escritora de ficção, meu tom de voz, minhas roupas, meu visual, minhas opiniões e minha pessoa “causam transtornos e configuram sério desrespeito aos frequentadores e funcionários da First”, motivos que tornam inevitável a minha expulsão.
Ok, as mudanças não me assustam. Não vou perder nem mais um segundo do meu tempo e a minha energia discutindo com gente tão sensível (ou outro termo apropriado, qual seria?)
Também não admito ser tratada desta maneira.
Deixo a academia First, em São Paulo, depois de 12 meses de frequência assídua (inclusive sábados, domingos e feriados) e passo a treinar e a me preparar para as próximas competições internacionais de Fisiculturismo Natural em outra academia de ginástica.
Só preciso de alguns halteres e pesos, porque a dedicação e a disciplina me acompanham em qualquer lugar.”
*João Luiz Vieira, 49, é jornalista, roteirista, letrista e educador sexual, ou sexólogo, como preferir. Ele tem dois livros lançados como coordenador de texto: ‘Sexo com Todas as Letras’ (e-galáxia, fora de catálogo) e ‘Kama Sutra Brasileiro’ (Editora Planeta, 176 páginas).
Homem, idade não revelada, nascido de um homem e uma mulher altamente erotizados. hoje pensa e vive para isso, além de trocar ideias sobre o tema. ou será que ele escreve sobre outra pessoa, é tudo ficção ou só exagero? ou não? quem sabe que se cale.
JOÃO LUIZ VIEIRA - Segunda-Feira
ROSOSTOLATO - Segunda-Feira
ALANA LIAL - Terça-Feira
LUIZ FERNANDO UCHOA - Quarta-Feira
MARCHESA DE SADI - Quinta-Feira
HEITOR WERNECK - Quinta-Feira
MARCIA ROCHA - Sexta-Feira
DIÁLOGOS COM MAMÃE - Sábado
Roberto Tadeu
6 de Dezembro de 2013 at 10:26 AMParabéns pela postura. É isso aí.