ALANA LIAL* –
Nunca te encontrei nos botecos da Lapa, nem nas praças do subúrbio carioca, nem nunca participei de nenhuma reunião que você estivesse falando na zona sul. Também nunca vimos um por do Sol juntas no Arpoador. Mas nada disso era preciso, porque já nós conhecíamos, o que fazemos pelo outro quando o outro faz total sentido pra gente também é meu. E você fazia.
Não é só porque você era uma mulher, não é só porque era uma mulher negra, não era só porque era uma mulher negra brasileira. Era uma mulher antes de tudo que lutava pelo amor. E não existe nada que traduza melhor o amor do que lutar pelo bem desse, daquele, daquela, ela, senhora, moça. A vida com sentido faz muito mais sentido, e é tão difícil encontrar essa mola propulsora pra acordar todo dia e seguir, e seguir adiante. Você seguiu até onde deixaram, mas até onde seguiu, conseguiu fazer tanto e esse tanto vai sempre ecoar. Desculpa, fui cafona nesses últimos trechos, mas se há emoção, quase sempre há também cafonice.
Nome de escola? #somostodos, pra começo de conversar vamos deixar a hipocrisia pra lá.
E sobre hipocrisia, eu só queria te dizer também que, como você bem deve saber, mas como tem gente aqui que não deve saber, pesquisas renomadas apontam que quase 100% dos brasileiros não se consideram racistas, mas quase 100% dos brasileiros consideram o País racista. Você bem deve saber tudo que passou para chegar até aqui, seria cômico se não fosse trágico. Tudo bem, meu alvo aqui não é só o racismo.
E como falei antes, é bom que a gente não esqueça, você é mulher, e a gente vive num lugarzinho medíocre em que ser mulher é viver em segundo plano. Não por nós, por eles. Mas você sabe que acreditamos que podemos mudar, você foi fazendo o seu. Mas deixou muitas sementes plantadas em mim, e em tantas outras, várias de você também nos deixam todos os dias, algumas por incomodar maridos ou homens gerados por chocadeiras, outras por tocarem em feridas sociais tapadas por esparadrapos, outras por gritar por igualdade, direito, não é favor. O buraco, minha amiga, é mais embaixo. Só quero que saiba que tenha certeza que você fez e fez grande.
Que a sua partida forçada e brutal não nos cale, porque a gente ainda tem muito que fazer. Estamos só começando, somos a maioria sem voz. Por enquanto. O seu maior legado é a força. Você estava no caminho certo, e que todas devemos seguir. Pessoas como você semeiam pessoas. E que o seu luto, vire luta.
*Alana Lial é atriz, jornalista e autora teatral. É apaixonada por cinema, verão, yoga, gente e tatuagens. Quase nunca recuso um bom papo, mas quase sempre café sim.
Homem, idade não revelada, nascido de um homem e uma mulher altamente erotizados. hoje pensa e vive para isso, além de trocar ideias sobre o tema. ou será que ele escreve sobre outra pessoa, é tudo ficção ou só exagero? ou não? quem sabe que se cale.
JOÃO LUIZ VIEIRA - Segunda-Feira
ROSOSTOLATO - Segunda-Feira
ALANA LIAL - Terça-Feira
LUIZ FERNANDO UCHOA - Quarta-Feira
MARCHESA DE SADI - Quinta-Feira
HEITOR WERNECK - Quinta-Feira
MARCIA ROCHA - Sexta-Feira
DIÁLOGOS COM MAMÃE - Sábado
Comentar