eROV65 on Visual hunt / CC BY-NC-SA
JOÃO LUIZ VIEIRA*
Ele passou o dia fazendo gargarejos sequenciais por causa desta noite. O publicitário Pedro, nome fictício, vai mordiscar, lamber, sugar e chupar dedos e solas de pés de desconhecidos no “Projeto Luxúria para Homens – BDSM” (Rua Aurora, 710 – República – São Paulo, SP, a partir das 23h55). Haverá concurso de podolatria, com premiação do ‘pezão mais gostoso’ da noite, e ele estará a postos, conferindo possíveis parceiros.
Pedro, 37 anos, é podólatra, ou seja, sente muito mais prazer numa relação a dois quando usa e se lambuza na região posterior ao calcanhar. Podolatria é uma das cem parafilias conhecidas, algumas delas usadas no longa ‘Kiki – Os Segredos do Desejo’, de Paco León, em cartaz nos cinemas. Parafilia, termo cunhado em 1924 pelo psiquiatra austríaco Wilhelm Stekel, descreve práticas sexuais além coito que, ao longo da História, foram superestimadas, subjugadas ou interditadas. Aqui, a conversa com Pedro:
Quando você descobriu essa fascinação pelos pés alheios?
Pedro – Engraçado que não tem uma data, um ano. É um desejo que vem da minha infância. Lembro que ficava desejando o pé do meu tio e do meu primo. Até então eu também não sabia que era gay. Era uma coisa muito louca na minha cabeça. Pensava que um dia iria passar, iria namorar uma menina, casar e ter filhos. Na adolescência essa mudança não aconteceu, e só aumentou meu desejo. Fui uma criança que sempre brincou muito na rua, então quando eu e meus amigos jogávamos futebol ou taco, estávamos descalços ou de sandália. Ficava louco. Minha vontade era de chupar e lamber os pés deles. Estava me reconhecendo como gay, e eles não. Engraçado que um deles, hoje falecido, percebia como o encarava. Tinha desejo nele todo, na verdade, mas com foco nos pés, os mais lindos do planeta. Foi daí que ele sugeriu jogar videogame na minha casa.
Jogar videogame serve de álibi para muitas iniciações sexuais de adolescentes, não?
Pedro – Sim, todo mundo tem esse negócio com videogame. Topei, claro. Minha mãe sempre me deixou muito à vontade em casa. Então eu me trancava e passava a tarde com ele. Ele mesmo propôs umas apostas, e eu, obviamente, era craque nos jogos que tinha em casa. Ele dizia que se eu perdesse teria de beijar o pé dele. Claro que eu perdia. (risos) Isso foi aumentando e ele frequentava muito minha casa. E eu beijava muito os pés dele. (risos) Eu não chegava a lamber, enfiar inteiro na boca ou lambuzá-lo de saliva. Ficava uma coisa mais superficial. Só que às vezes ele me fazia deitar no chão e ficava com os pés na minha cara. Era o paraíso. Não tinha coragem de colocar a língua pra fora, lamber, chupar ou mesmo pedi pra fazer isso. Tinha que dar uma disfarçada. Tinha 15 anos.
O que lhe atrai a um pé?
Pedro – É difícil responder, mas é a parte do corpo que mais me dá tesão, prazer.
Há tamanho, cor e forma de preferência?
Pedro – Isso, tem. Eu não curto pé de negro, por exemplo. Acho negro e negra, em especial, os seres humanos mais bonitos do mundo, mesmo. É engraçado que se fosse hétero eu gostaria de me casar com uma negra, mas sendo gay eu não tenho tesão nenhum em homem negro. O pé dele não me atrai pelo formato, pelo solado e pela textura da pele.
Prefere pés mais macios?
Pedro – Também não, na verdade. Prefiro pés mais ásperos. Não gosto de pé muito grande e tem de ser, pelo menos, acima de 39. (risos) Não me dá tesão se alguém diz que calça 37. Há muitos caras que me procuram calçando 37 e eu digo logo que não vai rolar. (risos) Eu gosto muito de pé branco, mas não gosto de pé muito macio porque parece de mulher.
Com pelo ou sem pelo?
Pedro – Tanto faz, mas a tendência é gostar mais com pelo.
Preferência por formato de dedos?
Pedro – Não gosto de pés com dedos muito curtinhos. Não tenho tesão. Gosto de pé escadinha. Não gosto do segundo dedo maior que o dedão.
Chulé lhe incomoda?
Pedro – Não. Já peguei vários pés com chulé. E não é ruim. (risos)
Não chega a lavar os pés de alguém com chulé?
Pedro – (risos) Não! Nunca! Faz parte. Mas são cheiros muito diferentes. Poucos me incomodam. Pé tem um cheiro natural, noutras vezes uns odores mais fortes por causa de meias ou tênis. Me incomoda mesmo é cheiro de pele. Uma vez fui encontrar um cara que passou perfume. Perguntei se ele tava maluco. (risos) O cheiro fica desagradável e incomoda a língua.
Você gosta de tirar os sapatos ou prefere que os pés já venham nus para sua boca?
Pedro – Depende. Às vezes peço para tirar os sapatos, noutras sugiro ficarem com as meias, ou mesmo de chinelo.
Você higieniza os pés dos parceiros ou mete a boca direto?
Pedro – Meto a boca. Nada de produtos, não. Passo longe de produtos de higiene. (risos)
Já colocou comida nos pés para depois lamber?
Pedro – Já fiz isso. Não me dá tesão. Gosto do pé, não da comida que se mistura a ele.
Você usa outras partes do corpo do parceiro ou fica somente lá embaixo?
Pedro – Depende. Se o cara me dá muito tesão, parto para outra parte do corpo, mas é muito raro. Muitos caras não estão a fim de ter outra parte do corpo explorada, principalmente os héteros.
Vocês gozam?
Pedro – A grande maioria, e eu também. Às vezes tem hétero que prefere me ver curtindo o pé dele e que eu não goze.
Todo mundo nu sempre?
Pedro – Quase sempre. Teve um caso que foi muito legal. Um executivo de 47 anos. Eu tinha 19 à época. Ele parecia o Mel Gibson. Ele só tirou sapato e meia. Deu tesão ele olhar pra mim o chupando.
Os heterossexuais reclamam que as mulheres deles não fazem isso?
Pedro – Reclamam muito. Elas perdem muitas oportunidades no sexo. Como gay, tenho muitas amigas mulheres, e estou sempre participando de rodas de conversa. Percebo que eles perdem muita coisa por causa de nojo, não querem se sentir submissas no sexo ou, até mesmo querendo, não querem demonstrar, especialmente com essa nova onda de feminismo. Creio que está afetando o sexo heterossexual. É bom pra mim! (risos)
Você conhece um pé bonito pelas mãos?
Pedro – Ah, sim, muitas vezes é compatível. O rosto dos caras não me interessa.
Você não sente solidão? Não se incomoda encontrar alguém só para usar os pés?
Pedro – Não sinto solidão e muitas vezes reencontro esses parceiros, que não são clientes, como devem pensar. Rola uma troca legal. (risos)
Já se apaixonou por alguém por causa de um pé?
Pedro – Já. Fiquei bem apaixonado pelos pés de um homem e por ele, claro.
Sandálias Havaianas lhe dão tesão?
Pedro – Não me deixavam louco quando eram aquelas branquinhas de solado preto. Depois da inovada da marca, ficou mais fashion, fiquei mais excitado. Antes o Rider dava mais tesão. Agora, Croc nem pensar. Odeio. Perco tesão na hora.
Você lambe sapatos, solas e pernas?
Pedro – Só pernas. Me dá tesão.
Depois dos pés e das pernas, os pênis?
Pedro – Não. Suvaco e mãos. (risos)
Acha pé de mulher bonito?
Pedro – Acho, mas nunca lambi, embora goste da ideia de um homem com scarpin. (risos) Prefiro homem com botas de acampamento.
Você se considera doente ou buscou terapia por causa da podolatria?
Pedro – Não, nunca me considerei doente. Já procurei terapia por outras coisas.
O pé do brasileiro é bonito?
Pedro – O pé do brasileiro é o mais bonito do mundo. Dou graças a Deus de estar aqui. (risos) O pé do americano é muito rosado e fino. E do brasileiro nem é largo nem fino, é delicado e rústico ao mesmo tempo. O espanhol tem umas unhas grossas que me incomodam. Pé de asiático tenho pavor.
Já lambeu alguém em lugar público?
Pedro – (risos) Já. Uma vez estava em Búzios com uma turma, mas resolvi andar sozinho. Cruzei com um cara bebaço, que brincou comigo, e gostei. Quando ele caiu na areia, tirei o sapato dele e meti a boca. Fiquei quase uma hora. Ele desmaiado, eu estuprando os pés dele. Noutra vez, entrei no cinema com um cara casado. Ele tava com tesão, a sala vazia. O que fizemos? Fiquei duas horas lambendo os pés dele enquanto ele assistia o filme. Gostei da experiência e fiz outra vez.O cinema tava vazio. Ele assistiu e passei duas horas deitado no chão chupando os pés dele. Fiz com dois caras já. Algum problema nisso?
Foto: Bianca Vasconcellos
*João Luiz Vieira, 51, é jornalista, roteirista, letrista e educador sexual, ou sexólogo, como preferir. Ele tem dois livros lançados como coordenador de texto: ‘Sexo com Todas as Letras’ (e-galáxia, fora de catálogo) e ‘Kama Sutra Brasileiro’ (Editora Planeta, 176 páginas),e é sócio do canal de youtube Sexo Sem Medo. Interessado em palestras sobre aspectos gerais ou específicos da sexualidade, por gentileza procurar Vitor Bastos (portal http://tambor.biz/) ou Tate Costa (tate.costa@gmail.com).
Homem, idade não revelada, nascido de um homem e uma mulher altamente erotizados. hoje pensa e vive para isso, além de trocar ideias sobre o tema. ou será que ele escreve sobre outra pessoa, é tudo ficção ou só exagero? ou não? quem sabe que se cale.
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