Acervo pessoal
JOÃO LUIZ VIEIRA*-
A oferta de sexo é vasta, diversificada e com preços os mais elásticos possíveis. Há, porém, um grupo de 2,1 milhões de brasileiros que agradece a gentileza, mas não se interessa, não leva para casa e muito menos usufrui do corpo alheio. De acordo com estatísticas, indivíduos que não sentem interesse afetivo e/ou sexual por outro da mesma espécie representam 1% da população mundial, nascem assim e, boa parte deles, acreditam que sexo é agressão.
Luciana do Rocio Mallon é assexual heterorromântica, ou seja, pode vir a se envolver com algum homem heterossexual, embora, de preferência, sem precisar ir às vias de fato. Os assexuais mais radicais sequer querem se relacionar afetivamente, são os arromânticos. Formada em Letras pela Universidade do Paraná, Magistério pelo Colégio São José e Hospitalidade pelo Colégio Estadual do Paraná, Luciana deu entrevista ao PPQO.
PPQO – Como é assumir que é virgem aos 40 anos hoje em dia? Que tipo de coisas preconceituosas ouve, se é que não foi agredida?
Luciana – Bem, algumas pessoas se incomodam pelo fato de eu ter esta idade e ainda não ter me casado. Depois quando digo que nunca transei, elas me olham de um jeito estranho e exclamam frases tipo:
– Como isto é possível?
– Como você aguenta?
Um dia quando dei entrevista sobre assexualidade, para um canal de TV, recebi algumas mensagens agressivas dizendo que eu merecia uma penetração corretiva para aprender a gostar de sexo.
PPQO – Por que o sexo nunca lhe interessou, ou isso é uma convicção recente?
Luciana – Logo na adolescência percebi que era diferente porque não gostava de ficar com os meninos sem ter compromisso. Quando as outras garotas faziam apostas para ver quem beijava mais na escola, ou nas festas, isso me embrulhava o estômago, e eu passava mal. Mas só entre 2004 e 2005, através da internet, foi que descobri que era assexual.
PPQO – O ser humano é a única espécie que tem sexualidade, expressa através de nossos sentidos, isso está cientificamente comprovado. O que é melhor que sexo para lhe satisfazer, nada a satisfaz ou satisfação é desimportante?
Luciana – No meu caso, sexo seria uma espécie de agressão. Então eu me realizo com outros aspectos da minha vida. Por exemplo, eu faço um serviço voluntário onde realizo uma ‘performance’ chamada ‘Lendas, Repentes e Danças’, onde crio poemas, conto histórias e danço em eventos de instituições que ajudam pessoas carentes. O próprio psicanalista Freud disse que a libido, que é a energia sexual, pode ser canalizada para outras atividades.
PPQO – Todo mundo acha que quem não faz ou desiste do sexo sofre ou sofreu algum tipo de trauma. O que pensa sobre isso e o que diz a essas pessoas?
Luciana – Bem, essas pessoas estão equivocadas. Assexuais já nascem com tendência para não ter atração sexual. Ninguém se torna assexual, pois tem gente que já nasce assim.
PPQO – Como chegou até você informações a respeito da sexualidade? Sexo era transmitido como algo pecaminoso, sujo ou algo do tipo?
Luciana – Na infância, como eu morava num bairro pobre com grande índice de bêbados na rua, fui ensinada a não deixar que nenhum adulto tocasse em mim. Minha família dava esses conselhos para evitar que eu fosse vítima de pedofilia, mas eu não gostava de contato físico nem das outras crianças da escola. Brincadeiras como pega-pega eram um martírio para mim, pois não gostava quando outras crianças encostavam em meu corpo nem de uma forma inocente.
PPQO – Você já se masturbou, beijou na boca, namorou ou sentiu orgasmo?
Luciana – Sim, eu já me masturbei. No começo da adolescência, eu me masturbei com um elefantinho de pelúcia. Eu já namorei, porém nunca fiz sexo.
PPQO – Você também nunca se interessou em ser mãe ou ter um relacionamento assexuado?
Luciana – Nunca tive interesse em ter filhos, pois minha situação financeira sempre foi precária, mas até hoje tenho vontade de namorar uma pessoa assexual, só que nunca conheci alguém que fosse assim.
PPQO – Em outras palavras, você é heterorromântica (assexual que toparia um namoro com um heterossexual), homorromântica (com uma mulher), birromântico (com um homem ou uma mulher), panromântica (com qualquer gênero) ou arromântica (nenhuma chance de sequer namorar)?
Luciana – Eu sou heterorromântica, pois meus namorados sempre foram homens.
PPQO – De que maneira ser assexuada ajudou ou atrapalhou sua vida? Desde relacionamentos familiares a relações de trabalho?
Luciana – Ser assexual tem seus pontos positivos, pois no meu caso pude me concentrar mais nos estudos, no trabalho e nos meus projetos. Realizei o sonho de publicar um livro de graça e pratico serviço voluntário num projeto chamado Anjos da Cidadania. Um aspecto que me incomoda, porém, é quando parentes ou pessoas que não me conhecem me perguntam o por que de eu nunca ter me casado, ou ralham comigo dizendo que eu deveria já estar casada.
PPQO – Você acredita que ainda pode mudar de ideia um dia ou assexualidade é nata e irreversível?
Luciana – A assexualidade nata é difícil de ser mudada, pois desde a adolescência, quando minhas colegas falavam de suas aventuras sexuais, eu sentia uma repulsa muito grande por sexo, e chegava a até passar mal por causa destas conversas. Mas se um dia eu me apaixonar e perceber que a pessoa vale a pena, eu aceitarei fazer sexo só depois do casamento. Mas farei só para agradar o marido, e, com certeza ele saberá disto porque sou muito sincera.
FOTO: Bianca Vasconcellos
*João Luiz Vieira, 51, é jornalista, roteirista, letrista e educador sexual, ou sexólogo, como preferir. Ele tem dois livros lançados como coordenador de texto: ‘Sexo com Todas as Letras’ (e-galáxia, fora de catálogo) e ‘Kama Sutra Brasileiro’ (Editora Planeta, 176 páginas),e é sócio do canal de youtube Sexo Sem Medo. Interessado em palestras sobre aspectos gerais ou específicos da sexualidade, por gentileza procurar Vitor Bastos (portal http://tambor.biz/) ou Tate Costa (tate.costa@gmail.com).
Homem, idade não revelada, nascido de um homem e uma mulher altamente erotizados. hoje pensa e vive para isso, além de trocar ideias sobre o tema. ou será que ele escreve sobre outra pessoa, é tudo ficção ou só exagero? ou não? quem sabe que se cale.
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