JOÃO LUIZ VIEIRA –
Renato Fernandes é o típico homem de escorpião: ama ou detesta, ame-o ou deixe-o. Quem nasceu sob esse signo tem pouca vocação para a diplomacia, a arte de passar horas negociando pontos de vista e, quase sempre, não ferir nem ser ferido e, também, não chegar a lugar nenhum. Preto ou branco, verdade ou mentira, ética ou escárnio. Renato se expõe com uma coragem que é raríssima nesses dias em que a maioria não quer se comprometer com nada ou ninguém. Ele escreve com muita competência sobre o que sente, percebe e precisa transmitir. Uma grande honra tê-lo conosco nesses três anos de PPQO, mesmo que em apenas seis colunas. Aqui, cinco dos textos que o explicam melhor que eu:
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‘Ele me pede mais exames. Mal ouço e saio do consultório dele. Apenas com uma certeza. Se como homem no passado ele não serviu, como médico naquele momento também não seria o meu. Você rejeitar um gay no passado é ganhar um inimigo. Melhor dizer que sempre está enrolado, namorando. Do que falar: ‘Queridão, não rola’. Saio pelas ruas do Sumaré com minha alma a dois metros do meu corpo da calçada. Meu mundo não caiu. Meu mundo subiu. Não sabia mais quem eu era e para onde ia. Começava ali uma jornada que não desejo a ninguém. A principal razão de eu estar aqui expondo isso a você.’
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‘Não, não tenho. Tenho o vírus do HIV e, caso não seja bem tratado, a doença pode se manifestar. Tento levar uma vida e alimentação saudável, e nunca deixei de tomar o coquetel, desde junho de 2012. Nunca pulei um dia. Nunca esqueci. Ele faz parte da minha rotina, como agradecer a Deus, logo ao acordar. O correto é dizer: o fulano tem o vírus do HIV. E NUNCA o fulano tem aids. Não, na realidade imagino – lá dentro da alma – quem possa ter sido. Mas sei que ele não é assassino. A culpa toda é minha. Somente minha, por não ter usado preservativo. Sei também que foi numa fase de muito baixa autoestima, na qual usei droga (cocaína) e bebia. Numa época que descreditei total do amor. Esse período durou um ano e meio. O suficiente de eu fazer um estrago por toda a vida.’
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‘Para que contar? Para que ninguém passe pelo que eu passo. O coquetel que eu tomo diariamente afeta muito os órgãos vitais. Minha geração viu muitos morrerem de aids. A capa da Veja com Cazuza já muito doente abalou o País, porém, com certeza, fez muita gente usar camisinha. Hoje vejo apenas durante o carnaval campanhas para o uso de preservativo. Não dá, não pode. Tem que ser constante. Outro dia, soube o caso de um jovem que foi a uma sauna e fez sexo com mais de dez caras, sendo ele passivo, e sem nenhuma proteção. O que fazer para que um jovem desse saiba o risco que ele está correndo?’
‘Como ficou minha vida sexual depois de descobrir ser portador do vírus do HIV? Nula. Durante meses tomei um “bode” tremendo de sexo, afinal foi assim que me contaminei. Pela falta de uso do preservativo. Ao descobrir, estava tendo um início de relacionamento com um homem, maduro, como gosto. Quando fomos transar, não consegui. Bloqueei. Não havia possibilidade de transar com ele e não contar. Contei, já com ambos deitados, e nus, no meu sofá.’
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‘Não sou Xênia, não tenho tantas opiniões, e nem sei se estou certo ou errado de abrir minha soropositividade. Abri, pois sou só e o apoio dos meus amigos, reais e virtuais, foi fundamental para minha recuperação. Quando descobri, estava a um passo de ficar doente. Também acho que só abre quem pode abrir. Isto é, não dependo de ninguém financeiramente, e como jornalista minha chefe foi a quarta pessoa a saber. Me apoiou, sempre. Não digo para ninguém abrir. Eu pude revelar e me fez bem. Para mim foi ótimo, para outra pessoa, não. O que mais posso indicar, para todos portadores é o GIV- Grupo de Incentivo à Vida: http://www.giv.org.br/. Fica em São Paulo, que me ajudou demais. Aqui, o telefone: (11) 5084.0255, na Vila Mariana.’
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Gostou? Esses são apenas cinco colunas publicadas por ele nesses três anos de PPQO, a título de exemplo do que Renato Fernandes é capaz de provocar: seus instintos mais atávicos. Se quiser ler mais, entra no site, em Colunas, e procura por HIVendo. Quem sabe ele volta em 2016?
Homem, idade não revelada, nascido de um homem e uma mulher altamente erotizados. hoje pensa e vive para isso, além de trocar ideias sobre o tema. ou será que ele escreve sobre outra pessoa, é tudo ficção ou só exagero? ou não? quem sabe que se cale.
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