Acervo pessoal
JOÃO LUIZ VIEIRA –
O que dizer de Doutor Fofinho? Ele foi fundamental nesses três anos de PPQO. Escreveu a impressionante soma de 108 textos, alguns deles a partir de solicitações minhas, impaciente com o rumo da prosa no mundo real e nas redes sociais da internet. Ele, prontamente, me enviava, de onde estivesse, inclusive fora do País. E quando os textos chegavam, nada ficava no mesmo lugar depois. Uma aula de humanidade. Aqui, trechos dos textos mais pertinentes e comentados desse provocador nato, que, dentre outras coisas, fez muita gente chorar.
‘É fato que ainda pensamos pouco no futuro. O hedonismo excessivo, a ‘eterna juventude’ do gay também potencializa os problemas que chegarão com a velhice. É importante pensar no fim, porque ele chegará. Para quem deseja, constituir parcerias civis com o companheiro, casar-se, fazer testamento ou procurações deixando claro de quem se responsabilizará pelo cuidado, são medidas importantes e necessárias. Para quem é avesso ao casamento, a saída é instituir uma pessoa próxima, de confiança, aquele ‘amigo-irmão’ que cumpra seu desejo num momento desses. Claro que tudo fica muito mais fácil à medida que aprendemos e ensinamos à sociedade, às famílias a reconhecer, aceitar e respeitar a existência dos homossexuais e seus direitos. Felizmente, progredimos. A sociedade amadurece, ainda que a passos de tartaruga manca. Espero estar vivo e lúcido até lá.’
O elefante da velhice gay é muito maior que do heterossexual
‘Tenho observado como familiares e amigos ficam perplexos frente ao enlouquecimento de uma pessoa querida. Qualquer que seja a doença – esquizofrenia, Alzheimer, bipolaridade, ‘borderline’ –, há um enorme, intenso, desconfortável estranhamento frente àquele indivíduo dizendo e fazendo bobagens, e que muitas vezes conduz a um afastamento defensivo. É compreensível. É muito difícil ver alguém do qual se gosta deteriorando, sendo consumido pela insanidade, falando besteiras e gestos publicamente reprováveis. Somos despreparados para a doença, sobretudo quando esta nos rouba o juízo. Ninguém aprende na escola ou no curso de noivos da igreja que seu filho pode nascer ou pode se tornar mentalmente incapaz. Ninguém ouve falar que você pode ter um filho inteligentíssimo, brilhante, excelente aluno, que o inspirará mais ainda a investir na educação dele, mas que poderá surtar a qualquer momento e jogar todo esse investimento no lixo.’
Como é difícil entender quem pirou o cabeção, saiu da casinha
‘Lembro dos tapas que levava do meu pai pelo simples fato de brincar com as outras crianças. Do medo que sentia quando me perdia de alguém em lugar público. Dos chutes e empurrões que levava dos outros meninos da escola por ser gordo e ‘delicado’. Também ficaram gravadas em minha mente todas as frases pejorativas, preconceituosas e amedrontadoras que ouvia dos meus pais concernentes à homossexualidade. Eu jamais vou esquecer o dia em que a agonia tomou conta de mim e pensei em morrer, tirar minha vida, acabar com aquele sofrimento todo. Claro, não era só o desencontro da alma reprimida. Era violência, briga, agressão, desrespeito, insatisfação. Lembro desse dia como se fosse hoje: quando o sofrimento sem nome, a dor invisível aos outros tomou conta de mim, e quase me levou para o lado de lá.’
Lembro dos chutes que levava por ser gordo e delicado
‘Será que podemos fazer algo para ajudar? Sim, podemos e devemos. Devemos ‘escolarizar’ os pais, alienados que são para as coisas da intimidade dos seus filhos. Ignorantes que são, com medo do ‘contágio’ gay ou do excesso de confiança de alguns adultos que se aproveitam de crianças indefesas. Cegos e surdos, tantas vezes, aos clamores, queixas e sintomas dos pequeninos. Mas para identificar, é preciso conhecer. E só se conhece aprendendo, sendo ensinado. Ensinado que seu filho lindo, que está crescendo na sua barriga, pode ser gay, transexual, ‘diferente’ do que se espera. Diferente, não anormal. Aprender que pais, padrastos, tios, vizinhos, e às vezes até mulheres, qualquer tipo de pessoa, pode ser um abusador. Como faremos? Viveremos em paranoia? A resposta é uma só. Enxergar, ouvir, acolher, perceber.’
Mais um garoto se jogou da janela porque os pais não ‘aceitaram’ sua sexualidade
‘Temos que lembrar todos os dias que a aids está aí e que é muito mais fácil se contaminar do que se pensa. Nesses últimos três meses, acompanhei pessoas muito próximas que passaram por situações ligadas à contaminação, desde o risco e o medo até à contaminação de fato. Toda vez que vejo alguém levando um ‘susto’ desses – a cisma de estar contaminado por ter recebido a notícia de que um parceiro se infectou ou mesmo com o aparecimento de doenças que, embora simples, possam ter ligação com a síndrome, como sífilis, gonorreia ou herpes, meu coração se aperta junto com o da pessoa. Esse período de tempo, que pode durar de dias a meses, até um resultado definitivo, é geralmente cercado de grande aflição. No desespero, a pessoa vai geralmente buscar um apoio silencioso, secreto, na tela do computador, em sites de busca na internet. E lá se encontra de tudo: informações certas e erradas, imagens chocantes, dados alarmantes de pesquisas que, embora chocantes, não terão a menor utilidade nesse momento de aflição, simplesmente porque a pessoa não é apenas um número da casuística, um dado estatístico e tudo de bom ou mau pode acontecer.’
Gostou? Esses são apenas cinco colunas publicadas por ele nesses três anos de PPQO, a título de exemplo do que Doutor Fofinho é capaz de provocar: seus instintos mais atávicos. Se quiser ler mais, entra no site, em Colunas, e procura pelo nome dele. Quem sabe ele volta em 2016?
Homem, idade não revelada, nascido de um homem e uma mulher altamente erotizados. hoje pensa e vive para isso, além de trocar ideias sobre o tema. ou será que ele escreve sobre outra pessoa, é tudo ficção ou só exagero? ou não? quem sabe que se cale.
JOÃO LUIZ VIEIRA - Segunda-Feira
ROSOSTOLATO - Segunda-Feira
ALANA LIAL - Terça-Feira
LUIZ FERNANDO UCHOA - Quarta-Feira
MARCHESA DE SADI - Quinta-Feira
HEITOR WERNECK - Quinta-Feira
MARCIA ROCHA - Sexta-Feira
DIÁLOGOS COM MAMÃE - Sábado
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