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ZECA GERACE* –
Era final dos anos 1980 e uma revista semanal anunciou: ‘Artista agoniza em praça pública’. Eu tinha sido chamado de viado e bicha a vida inteira, mas nunca tinha pegado numa rola alheia. Chegou minha vez de gozar, mas agora ‘aporraeraproibida’.
Meus heróis estavam morrendo. Não de overdose, mas pelas mesmas escolhas que eu faria. Não tinha o que ser mudado. Não eram escolhas, era desejo, essência e sina. No mundo que escolhi viver, na noite, a música eletrônica nascia, e muito do gozo era deixado na pista, lugar seguro. As drogas que aprendi a usar consumiam um bom espaço daquela energia, mesmo que no dia seguinte ficasse vazio, vazio e seguro.
Na Senhora Kravitz, em São Paulo, competíamos quem pegava mais, velha brincadeira de garotos. O limite era o beijo, mais seguro do que ir até o fim e correr o risco de dar de cara com a porra proibida. Você pode pensar: ‘Que drama, usasse camisinha!’. O pânico era maior. Eu não confiava, tinha culpa e a certeza de morte.
No Hell’s, a pista me deixava seguro e exausto até às dez da manhã, o tesão se diluía nos aditivos e bateção de pé. Lembro de encontrar amigos num fim de semana, e algumas semanas depois eles estavam transformados. Tinha sido a porra proibida. Eu não queria aquilo pra mim. Caralhoooooo.
Por que na minha vez de gozar eu tinha que ser execrado? Tesão e medo, muito medo. Para um ser hedonista como eu, não ir até o fim era um sacrilégio. A geração anterior ia no Val Improviso. Todas as histórias que ouvia de lá me deixam salivando. Eu era daquela turma, mas o tempo era outro. Daquela turma poucos sobreviveram. Eu teria morrido também, certamente que sim. Alguns, massacrados pelo catolicismo cruel, diziam que a coisa fugiu do controle, as bichas enlouqueceram demais, foi preciso um breque. Era uma sensação de Sodoma e Gomorra, destruição e castigo.
Eu queria voltar atrás provar daquilo tudo. Era muita sede de sexo, putaria , mas o desejo teve que ser domesticado. Chegou 2000, 2010, 2015, aplicativos, sexo por minuto no vídeo, na vida virtual e real. E a frase que mais ouço é: ‘Goza na minha boca?’. A porra está liberada de novo.
*Zeca Gerace, nascido nos 70, mal criado nos 80, é vulcão ativo. Graduado em moda, arte e noite, sócio do Estúdio Xingu, publicará, quinzenalmente, às terças-feiras no PPQO.
Homem, idade não revelada, nascido de um homem e uma mulher altamente erotizados. hoje pensa e vive para isso, além de trocar ideias sobre o tema. ou será que ele escreve sobre outra pessoa, é tudo ficção ou só exagero? ou não? quem sabe que se cale.
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