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JOÃO LUIZ VIEIRA* –
Conheceu Põe na Roda? O programa, veiculado exclusivamente na web, tem repercutido pelas redes sociais, especialmente o segundo episódio que, na minha opinião, é melhor roteirizado e editado. O nome por trás da ideia é Pedro HMC, 29. O rapaz, que adorava Spice Girls quando adolescente, o que não faz tanto tempo assim, cresceu seu humor entre as poses mal encaradas de Victoria Beckham e as mil caras e bocas de Lady Gaga.
HMC, apelido que ganhou no passado por causa de um site dedicado ao quinteto britânico, revelou-se homossexual para a família ao mesmo tempo que desenvolvia uma verve peculiar de humorista, misturando a acidez típica dos gays e uma pegada mais teen, com piadas curtas e de duplo sentido na estrutura.
HMC trabalhou na MTV Brasil, escrevendo os programas Furo MTV, Comédia MTV e Adnet Ao Vivo, depois entrou no Vamos Rachar e Fritada, do Multishow. Desde o ano passado está na Band, onde colabora nos quadros de Dani Calabresa, no CQC, e assina uma coluna semanal no site da Folha de S.Paulo. Aqui, nossa conversa, e logo abaixo, o resultado do seu trabalho.
PPQO – Por que Põe Na Roda? Qual a ideia deste projeto?
HMC – Porque “pomos na roda” o assunto gay. E também é um trocadilho engraçado. A ideia é justamente falarmos sobre esses temas do universo gay que não vemos na mídia.
PPQO – O tema será sempre sobre o universo gay? Já podemos adiantar alguns?
HMC – Sim, sobre gay, mas para todos. Tenho planejado e escrito algumas propostas de programas de bate-papo, entrevistas, gameshow e esquetes sobre esse lance de g0ys que apareceu agora(risos), drag queens, relação entre gay e a família, Grindr, além das mais ativistas/conscientes como a Não é por ser gay….
PPQO – De onde vem os recursos para a produção?
HMC – O que tenho gastado são equipamentos emprestados de amigos que cedem, com muito boa vontade, e a gasolina do meu carro.
PPQO – Por que discutir assuntos ligados à homossexualidade?
HMC – Porque a homossexualidade é um espectro da sexualidade que pouco se vê representado. Existem programas e até canais exclusivos para homens, mulheres, mas para o público gay, principalmente no Brasil, quase nada.
PPQO – Você acredita que quando a homossexualidade não for mais assunto a sociedade dará um passo à frente?
HMC – Não acho que a homossexualidade vá deixar de ser assunto. Só acho que ela tende a ser cada vez mais aceita e respeitada, vemos isso acontecendo. Isso eu acho um passo à frente. Não é porque o movimento feminista conseguiu desde a década de 60 até hoje cada vez mais igualar os direitos das mulheres aos dos homens que elas deixaram de ser assunto. Elas só conquistaram igualdade, passaram a serem respeitadas e ganharam seu próprio espaço.
PPQO – Em quem você se inspira para desenvolver seu humor?
HMC – Acho que eu penso idiotice naturalmente, mas como sou pouco extrovertido, ao invés de ir fazer stand-up ou aparecer, virei roteirista (até porque escrevendo organizo melhor meus pensamentos). Na escola, quando criança, a crítica recorrente dos professores com a minha mãe era que eu terminava a lição rápido e distraía os colegas que ainda estavam fazendo ainda. Vira e mexe era expulso da sala porque fazia alguém rir por causa de algum comentário idiota que fazia sobre algo ou alguém. Felizmente achei um espaço onde isso pôde virar meu ganha pão, quando fui trabalhar escrevendo o Furo e Comédia MTV.
PPQO – Quando, como e como foi seu “outing”? Como foi recebido em casa e no trabalho?
HMC -Eu tinha 16 pra 17 anos e namorei um cara de 28 por dois anos (até os 19). Minha mãe estranhava o porquê de eu dormir tanto fora de casa, mas eu não tinha coragem de contar. Um dia, meu namorado pediu pra eu ir embora cedo da casa dele porque a faxineira da mãe iria limpar sua casa e ele não era assumido. Aquilo me deu tanta vergonha (da situação dele, pensei que não ia querer viver daquela forma) que, num ato de dignidade (risos), fui pra casa, sentei e contei pra minha mãe na lata. A reação dela não foi de preconceito, mas de aceitação e, principalmente, preocupação pelo que eu sofreria, pela maneira como o mundo me trataria, aquela coisa de mãe.
PPQO – E o mundo tem lhe tratado bem?
HMC – Tem me tratado bem, sim. Desde que me assumi não posso reclamar nesse sentido, mas me sinto privilegiado por muitos motivos. Moro em São Paulo, minha família nunca se manifestou contra minha sexualidade desde que contei (já tive namorado frequentando a casa da mãe e amo até hoje a família do meu ex) e trabalho numa área (TV) onde isso não é um problema. Pra não dizer que é quase padrão. (risos). Tô brincando. Tem muito hétero também. Em outra situação talvez não fosse tão simples, ainda tem muito preconceito por aí, é claro.
PPQO – Você acredita que esse projeto teria espaço há 20 anos? Por quê?
HMC – Acredito que não, ou teria um público muito menor. Hoje em dia tem muito mais gays assumidos que vivem sua própria vida, como querem, e isso impõe cada vez mais respeito por parte dos outros. Pega muito pior ser homofóbico publicamente do que gay. Há 20 anos era o oposto, era quase que normal ser homofóbico.
PPQO – Você está namorando? Se sim, o que seu namorado acha do projeto?
HMC – Já fui casado quatro anos e meio. Atualmente não namoro tem bastante tempo. Gosto da liberdade e independência de estar solteiro, exceto no inverno (risos). Isso não significa que não namore, apenas que tenha que ser algo realmente muito forte pra eu abrir mão disso. Se for namorar, vai ter que ser alguém que aceite meu projeto… e não pegue muito no pé. Como bom aquariano valorizo bastante a individualidade. (risos)
FOTO: Bianca Vasconcellos
*João Luiz Vieira, 51, é jornalista, roteirista, letrista e educador sexual, ou sexólogo, como preferir. Ele tem dois livros lançados como coordenador de texto: ‘Sexo com Todas as Letras’ (e-galáxia, fora de catálogo) e ‘Kama Sutra Brasileiro’ (Editora Planeta, 176 páginas),e é sócio do canal de youtube Sexo Sem Medo. Interessado em palestras sobre aspectos gerais ou específicos da sexualidade, por gentileza procurar Vitor Bastos (portal http://tambor.biz/) ou Tate Costa (tate.costa@gmail.com).
Homem, idade não revelada, nascido de um homem e uma mulher altamente erotizados. hoje pensa e vive para isso, além de trocar ideias sobre o tema. ou será que ele escreve sobre outra pessoa, é tudo ficção ou só exagero? ou não? quem sabe que se cale.
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